Na imprensa, antes do lançamento: 1839

Fonte: The Talbot Catalogue Raisonné

Na imprensa, antes mesmo de ser anunciada!

Nada espantoso, afinal se Hippolyte Bayard (1801-1887) participa em exposição aberta em 14 de julho de 1839 com 30 imagens, trazendo cenas de natureza morta e arquitetura, um mês antes da apresentação oficial da daguerreotipia, por que não? Bayard, utilizando um processo positivo direto sobre papel desenvolvido por ele, estimulado pelo que se sabia então sobre os procedimentos de Daguerre e Talbot,  acaba por realizar a primeira exposição com imagens técnicas do gênero. O evento, em benefício das vítimas do  recente terremoto na Martinica, reunia diversos participantes com obras em pintura, desenho e escultura, como registra entre outros o jornal parisiense Le Constitutionnel, em 3 de agosto.

O interesse geral pelo assunto é expressivo. Jornais ingleses respondiam a essa demanda. Em 20 de abril do mesmo ano, The Mirror, periódico londrino traz na capa a reprodução de um desenho fotogênico, processo desenvolvido por Talbot. O encanto das imagens por contato de plantas diversas ou qualquer outro material que gerasse formas e texturas está ali, em tons marrons, mas transcrito através da xilogravura. O sistema adotado foi emulsionar os blocos de madeira e submetê-lo ao processo, sendo entalhados em seguida.

Uma semana depois é a vez de The Magazine ofScience and School of Arts, na edição de 27 de abril, trazendo 3 desenhos fotogênicos. O interesse parece persistir pois o mesmo jornal traria novas imagens em 4 de maio.

Para saber mais, veja o artigo de Larry Schaaf – Revelations & Representations, de 27 de maio de 2016, no site do projeto The Talbot Catalogue Raisonné, e aproveite para conhecer a coleção.

(publicado originalmente no FotoPlus Boletim nº 42, out.2019; versão revisada)

O lápis (da natureza) e outras construções simbólicas

Este é um texto em progresso. Uma homenagem tardia, pois já passaram 50 minutos deste ontem. 19 de agosto, dia da fotografia. A seu modo, é uma aproximação sem nenhuma ligação com a fotografia, mas vai se saber.

De inicio, Mr Talbot denominou suas experimentações como “desenhos fotogênicos” e, antes de tudo, tomando a referência adiante, organizou o livro The pencil of nature (1844). Era meu “primeiro livro” favorito até descobrir o álbum Photographs of British Algae: Cyanotype Impressions, organizado um ano antes por Anna Atkins.

Não, não, de volta ao tema: estamos aqui para falar de lápis (e um dia, talvez, sobre a decisão de Talbot ao fazer tal associação).

Como disse acima, é um texto em processo. A ideia é falar sobre lápis associados à fotografia. Adoro escrever a lápis, embora só consiga fazer garatujas, simples notas efêmeras rumo às bases de dados do projeto. Escrevo em computadores desde 1980, por volta disso. Notebooks, desde 1981, acreditem: sim, laptops, o prefixo em inglês não era nada erótico. Uso personal assistants desde 1996 com suas canetas (na verdade, meros pauzinhos). Smartphones, os mais precários, há uma década. Para que uso lápis? Garatujas, não falei?

Lápis, IMS, 2019.

A imagem acima é do lápis distribuído pelo Instituto Moreira Salles, no seminário Fotografia Moderna? …, agora em agosto. Grafite um pouco duro, mas acho que vou gostar. A madeira bruta é um maneirismo há décadas, que me agrada. A borrachinha preta na ponta até funciona, limpando sem deixar marcas. Acho que não está à venda na lojinha do Instituto, muito sofisticada para ficar atenta a banalidades.

Por muito tempo, meus lápis favoritos eram da Pinacoteca de São Paulo, mas quem usa lápis? Afora os desenhistas obcecados, pelos quais sou (reflexivamente) obcecado. Pausa mercadológica: acho que todo museu deve ter em suas lojas produtos baratos, a preço de bala, do tempo que estas eram baratas (e como sempre nada saudáveis). O Museu Paulista manteve por anos em sua lojinha singelos lápis e cadernos de notas (com retratos imperiais, ufa), que são sempre um agrado ao pequeno visitante, que, sim, eles usam lápis!

_________ (20.08.2019)