Este texto é uma nota escrita em 2001 após a morte do advogado Cecílio Coimbra de Araújo, assessor de longa data do Sindicato das Empresas Fotográficas do Estado de São Paulo, fundado em 1941. É um breve depoimento de Hans Günter Flieg, que o conheceu quando associado.
“Neste mês de janeiro de 2001 faleceu, aos 80 anos, o Dr. Cecílio Coimbra de Araújo.
Durante dezenas de anos, o Dr. Cecílio ocupava o cargo de assessor do Sindicato das Empresas de Artes Fotográficas do Estado de São Paulo – SEAFESP.
Iniciara ele sua carreira assistindo ao seu primo, o Dr. José Afonso de Araújo Almeida, fundador e primeiro advogado do Sindicato, e foi o Dr. Cecílio quem lavrou a primeira ata.
Muito mais do que jurista, Dr. Cecílio tornou-se algo como a coluna vertebral do Sindicato, padrão moral, incentivador e executor de novas iniciativas. Dr. Cecílio foi um missionário no melhor sentido, tomando a si a educação de todos os fotógrafos sindicalizados em São Paulo. Providenciou cursos e palestras sobre assuntos variados e da vida diária dos profissionais. Aspectos legais, impostos, cursos de oratória, de iluminação de estúdio, são temas que me ocorrem.
Por volta de 1960 foi editor da revista Objetiva, órgão do SEAFESP.
Enorme foi seu esforço para a regulamentação da profissão – contatos com políticos, viagens a Brasília.
Vital foi sua atuação na organização de outros sindicatos pelo país afora e da Federação.
Dr. Cecílio organizou vários congressos em São Paulo e ajudou organizá-los em outras cidades, como Curitiba, Belo Horizonte, Salvador e Recife. Durante estes congressos, seguramente em São Paulo, aconteciam as primeiras feiras de material fotográfico. Lembro-me bem de algumas no Hotel Hilton.
Dr. Cecílio foi procurador da Prefeitura Municipal de São Paulo até 1975, quando se aposentou no mais alto cargo de procurador-chefe.
No Sindicato ele aparecia mais como conselheiro dos diretores. Acontecia, porém, que os diretores tinham seu mandato limitado de, parece, 4 anos. Na verdade era Dr. Cecílio o elemento que garantia a continuidade das realizações e – como vimos mais tarde – da vida do Sindicato.
Uma das últimas diretorias dispensou-o – já com cerca de 75 anos de idade, porém muito lúcido e ativo como sempre – comunicando-lhe que não haveria mais necessidade dele no sindicato.
Parece-me hoje que este ato já era um claro sinal de declínio da vitalidade do sindicato.
As condições de vida e de trabalho dos profissionais do ramo fotográfico, e eles mesmos, mudaram muito nos últimos anos. Estou afastado do Sindicato há mais de 12 anos e não posso julgar as possibilidades de sua renovação.
Foi no velório do Dr. Cecílio, em contato com Dona Leonor, seus filhos Beatriz e Arthur, em conversa com seus netos Guilherme e Otávio, genro e nora – esta família querida que há tantos anos conheço – e revendo e falando com antigos colegas do Sindicato, que subitamente tive a certeza: Isto é um capítulo fechado. A história do SEAFESP é a História de Cecílio Coimbra de Araújo.”
Hans Günter Flieg, São Paulo, 19.01.2001
Publicado originalmente em:
FotoPlus: Páginas Negras n.035, 8 de março de 2001
http://www.fotoplus.com/fpb/