FotoPlus #50 – Junho 2020
A seu modo, o fenômeno foi percebido por todos. Sinais ocorreram aqui e ali, persistentes; traço distintivo de grandes modificações que surgem como constatação consciensiosa. Consequência direta do isolamento social na tentativa de controle da pandemia, havia uma demanda pela conversação. Os meios estavam ali em uma diversidade de formas e possibilidades. E, surpresa, os serviços de internet, de modo geral, responderam melhor à demanda do que a estrutura médica brasileira.
Este relato é um balanço provisório dessa
experiência no campo da fotografia no Brasil entre o final de abril e maio de
2020. Um relato de campo que procura delinear aspectos iniciais dessa
tendência, a partir do impacto sobre o projeto documental FotoPlus. Segue assim
antes como depoimento do que uma investigação em profundidade.
A fala, a conversação, certamente, foi
estimulada por um canal de grande uso no Brasil, o Whatsapp, em seus grupos, de
temáticas as mais diversas. Grupos de fotógrafos e agentes culturais,
formalmente constituídos ou não, que acabaram estabelecendo um chão comum para
as ações em análise. Quase certo, esse contexto inicial está interligado a
serviços similares como Telegram e às redes sociais de modo geral. Fica em
aberto por enquanto o papel de outro veículo como os podcasts, mas aqui surge
um traço distintivo: a fotografia falada entendida como uma conversa cara a
cara, em que o contato facial é aspecto distintivo. Fala e imagem, olho no
olho, conversa torta, imagem precária, conexões as vezes instáveis (em contraponto
ao Zoom ou outras plataformas alternativas com StreamYard, com recursos de
compartilhamentos de arquivos e telas), são traços que tem uma certa
centralidade nesse fenômeno.
Antes, os números da internet
Qualquer avalição exige uma referência, marcos
iniciais. É possível, por exemplo, de forma improvisada, a qualquer um estabelecer
um ranking. Quais são os perfis no Instagram, rede social de maior destaque
entre nós nos anos recentes, com mais seguidores? Essa pergunta pode ser
respondida, ainda que isso sempre dependa das reações e ações dos seguidores e
o impacto sobre o “algoritmo” da contemporaneidade. Todos os números indicados
tomam como referência o dia 21.06.2020.
Comecemos, para não esquecermos da fala como interesse principal, pelo perfil do podcast Papo de Fotógrafo – “O podcast de fotografia mais divertido do Brasil” como indica, que se apresenta como principal do setor: 56,5 mil seguidores. Vamos manter aqui essa unidade – milhares de.. e não empregar o indicador usual “K”.
Entre as instituições e empresas do setor cultural atuantes em fotografia, os números estão em faixa superior: Instituto Moreira Salles – 189 mil – e o Itaú Cultural – 210 mil. No entanto, é bom lembrar que ambos atuam em campo ampliado, da literatura ao cinema, por exemplo. Vale então checar o Museu da Fotografia Fortaleza, com 39 mil seguidores.
Como referência às grandes instituições culturais, por exemplo, MASP, Instituto Inhotim, MAM São Paulo e MAM Rio respondem respectivamente por 513, 320, 184 e 64 mil seguidores. Nesse contexto, o desempenho do Papo de Fotógrafo é significativo. Numa avaliação pessoal, fico surpreso que a impressa especializada tenha desempenho inferior. Assim, Fhoxonline com 23 mil seguidores ou a revista Fotografe melhor, 18,9 mil, não constituem patamar mais relevante. Aqui, é a revista Zum, editada pelo IMS, o perfil em destaque com 32,6 mil seguidores.
Os perfis de fotógrafos, autores de maior destaque, apresentam números mais expressivos. Nomes de uma geração mais velha como Bob Wolfenson e J. R. Duran registram 176 mil e 113 mil seguidores, respectivamente. São autores com presença distinta, e talvez, Duran no Twitter, com 148 mil seguidores, seja um perfil mais ativo, contudo como comentarista humorado sobre o cotidiano político brasileiro. Ainda assim Clicio Barroso, com 13,9 mil seguidores no Twitter, domina o pedaço, em dinâmica próxima (13,8 mil no Instagram).
Outros autores, da mesma geração, como Cristiano Mascaro e Márcio Scavone, têm patamares – bem distantes – mas similares com 7.765 e 9.835 seguidores. Seria oportuno checar outros agentes, como o curador e fotógrafo Eder Chiodetto com 15 mil seguidores ou o fotógrafo Claudio Edinger com 27 mil. Vik Muniz é exceção, com 254,4 mil seguidores, mas seu perfil é eclético, orientado mais pela descoberta visual e “gastronômica”. Ah, em tempo, Sebastião Salgado é nome recente, desde o início de maio, com 89,9 mil seguidores, mas essa presença foi causada por sua campanha de proteção aos povos indígenas (em tempo, assine).
Projetos de grande centralidade na difusão da imagem como os festivais, que se espalham de Norte a Sul, tem presença no Instagram bem heterogênea. FotoRio, por exemplo, tem 2.139 seguidores. Foto em Pauta, como veremos adiante, tem maior presença, com 14,1 mil seguidores, como também Paraty em Foco, com 10,5 mil seguidores, ou Valongo Festival, com 12 mil. A baixa presença no Instagram é aparentemente traço regular no setor, seja para FestFoto ou Festival de Fotografia de Paranapiacaba, velhos ou novos agentes. Isso indica, porém, apenas uma resposta lenta às dinâmicas das redes sociais. Em sua totalidade, um balanço documental indicaria que em grande parte os festivais têm presença na internet de modo irregular, com pouca abrangência sobre a própria produção em perspectiva histórica, o que surpreende frente ao protagonismo que apresentam (e reivindicam) na difusão e debate no panorama da fotografia brasileira.
Todos estão bem longe de nomes com abrangência internacional como o jogador Neymar, entre os grandes players internacionais, com 139 milhões de fãs. Estão também bem distantes de um fenômeno pouco conhecido da fotografia brasileira. O jovem Gilmar Silva, a partir de Cascavel, na região metropolitana de Fortaleza, aos 27 anos, a seis atuando na área, tem 1 milhão de seguidores no perfil gilmarphotos. Sinal, talvez como a dica dada pelo Papo de Fotógrafo parece revelar, de que humor seja um traço importante nas conversas das redes. Suas postagens diárias oferecem orientações para fotógrafos, sugestões para pose, iluminação… , sempre marcadas pelo humor, quase nonsense. Há muito a ser descoberto assim na presença da fotografia nas redes sociais, em setores específicos, às vezes mesclando campos como no caso de “Lucas Lapa” (lucaslapaphotopro), como distribuidor comercial, com 165 mil seguidores, que mereceriam análise.
Se uma pesquisa informal, que qualquer um pode fazer no Instagram, apresenta esse panorama, é oportuno dar uma olhada em portais de análise do segmento. Mas, primeiro, é preciso desvendar qual o universo geral de que estamos falando. Portais especializados, como DataReportal, são ferramentas impressionantes, numa primeira apreciação, e valem a visita. Trazem mais do que meros dados brutos, mas interpolações com perfis sociais, acessos a meios etc.
Conforme dados do portal DataReportal, em janeiro de 2020 (já disponíveis dados de fevereiro –https://datareportal.com/reports/digital-2020-brazil), para uma população de 211 milhões de brasileiros, 150,4 milhões são usuários da internet, sendo 140 milhões usuários ativos em redes sociais. Enfim, um número para refletir. O Instagram “era” então a quarta plataforma mais usada, após, na ordem decrescente, You Tube, Facebook e Whatsapp. O total de usuários Instagram – 77,0 milhões – correspondem a 44% da população com mais de 13 anos, sendo composto por 40,8% de público masculino.
O portal Hypeauditor é outra ferramenta útil e complexa para um estudo específico com números atualizados em tempo real. E, mais do que totais, inclui índices como engajamento de seguidores (ER), com likes etc.
Entre as 50 posições tops do Instagram para o Brasil em junho, destacam-se perfis como os das câmeras gopro com 1,3 milhão de seguidores no país, de um total de 17,2 milhões em escala mundial. GilmarPhotos não está “tão mail” assim! A NASA, claro, é campeã com 4,6 milhões de seguidores, parte do universo de 59,3 milhões em escala global, Aqui, perfis como IMS, Bob Wolfenson e J. R. Duran podem ser perfilados agora quanto ao engajamento de usuários, que varia entre 0,17% do total para o IMS a um campeão 1,63% para Bob Wolfenson, seguido por 0,31% para os seguidores de Duran.
No quadro geral do top 100 do Instagram, depois de separarmos – entre os classificados em “photography” (categoria em si problemática) – os atores e modelos, bem como os perfis de lifestyle e música – ufa!, quantos! – ficamos ainda com NASA e National Geographic em destaque. A velha revista na verdade desdobra-se entre natgeotravel (com 1,3 milhão de seguidores brasileiros para um total de 39,1 no mundo), natgeoadventure e natgeointhefied. As imagens espaciais estão divididas entre mais perfis, além da NASA, como NasaHubble e ISS, para International Space Station. Sim, ainda resta o GoPro. Mario Testino é o fotógrafo que aparece em destaque, uma surpresa digamos, com 511,6mil seguidores brasileiros do total de 4 milhões em escala global.
GilmarPhotos surge agora com dados mais claros, com 1,1
milhão de seguidores e engajamento dos usuários em 2,89%. No rank Brasil, Gilma’Silva
Fotografia está na posição 2.482 e no rank global em 15.795. Na categoria “photography
in Brazil” (em sua diversidade), Gilmar está muito bem na posição 68. O portal
traz dados adicionais. Gilmar como “Mister GSP” tem meros 56,2 mil seguidores
no You Tube, com apenas 23 vídeos, sinal claro de perfis de gerações mais
novas. No TikTok, contudo, GSP surge com 345,4 mil seguidores, com excepcional
crescimento de 36% em 30 dias – “exccelent” nas palavras do portal, com 5
posts por semana (“good”) e, imagine, um engajamento (ER) de 17,1% (classificado,
porém, como mero “good”).
Primeira fase: a pandemia: março de 2020
As primeiras semanas, marcadas pelo impacto da quarentena e “tomada de consciência” passo a passo frente às suspensões e cancelamentos que se impunham, foram marcadas na perspectiva do fenômeno em análise por uma dispersão. Para uma primeira avaliação do impacto geral sobre o quadro da produção, difusão e debate da fotografia no Brasil durante a quarentena, é possível sugerir a consulta à base de eventos FotoPlus, através, de forma simples, do termo de busca “pandemia” para um levantamento inicial.
Quanto à uma resposta mais ágil ao isolamento foram presenças já estabelecidas nas redes que se destacam, como digamos o “You tuber” carioca Renato Rocha Miranda. Fotógrafo por anos da Rede Globo, há alguns anos desenvolve sua produção no You Tube, voltada ao ensino, ao marketing etc. A partir de 2 de abril Rocha Miranda produziu lives diárias, no You Tube, Instagram e Facebook, no projeto COMVIDA.
Empreendores diversos, que tiveram grandes eventos suspensos como feiras, seminários etc, em especial para segmentos de reportagem social, casamento, por exemplo, foram outros agentes relevantes. Assim, o recurso a canais das redes sociais, já usuais, ganharam dinamismo nos casos do Grupo Fhox ou Wedding Brasil. Os coordenadores da revista Fhox, por exemplo, estabeleceram a Semana de Apoio e Suporte na Fotografia, também em lives diárias, aqui pelo Instagram, ainda em andamento. O mesmo fizeram os organizadores do Wedding Brasil 2020, programado para 28 de abril, que, além das lives diárias, criaram uma versão online do evento – At home (28 a 30 de abril).
De forma geral, essas ações partilhavam de circunstâncias como impacto em eventos programados e a experiência audiovisual nas redes, quase sempre voltada ao campo de ensino. Talvez, em parte, essas mesmas condições justifiquem o desempenho seguinte apresentado pelo Foto em Pauta (MG), após a suspensão imediata nos dias iniciais da montagem do 10º Festival de Fotografia de Tiradentes, com abertura programada para 18 de março.
A mesma ruptura ocorreu no mercado de arte, parte privilegiada do mercado de bens de luxo, assombrado pela interrupção do circuito internacional de feiras, um dos pilares de sustentação das grandes galerias brasileiras, e, finalmente, o cancelamento da edição 2020 da SP-Arte, programada para 1 a 5 de abril. Os desdobramentos no mercado e no sistema das artes visuais demandarão estudos por longo período. Embora fuja do recorte desse ensaio, registre-se o conjunto disperso de ações iniciais. Algumas galerias como a Zipper (SP) apresentaram de imediato visitas virtuais em sistema de visão 360 graus. O recurso, já conhecido, mas demandando investimento, não se espalhou. Curiosamente, as visitas virtuais nos meses seguintes ganharam a forma curiosa de páginas convencionais em HTML.
Abril, no casos dos agentes mencionados, será marcado por ações com uso de lives para entrevistas, conversas etc, e visitas online a ateliês. O MAM São Paulo é um exemplo dessas visitas, prática corrente em várias galerias locais como a Millan, por exemplo. Soluções nesse segmento surgem em formas diversas. Como o projeto Artista fala com artista¸ iniciado já em meados de março pela pequena Bianca Boeckel Galeria, cujos artistas representados comentavam obras dos demais participantes do grupo.
O mercado de arte local, apenas para registro, procurou estabelecer formas de apoiar artistas representados criando ações de venda a menor custo como o projeto Partilha, e, nos meses seguintes, testar formas online, à exemplo do mercado externo, como a feira not cancelled, entre 10 de junho e 8 de julho, através de plataforma internacional. Grupos de artistas visuais por seu lado procuraram reimaginar “um modelo econômico para as artes” como o Projeto Quarantine. E de forma geral, restou aos serviços educativos dos museus pensar a cada semana novas formas de estabelecer dinâmicas com os públicos online, experiência que seria oportuna para pensar a médio prazo um protagonismo mais revelante para estes setores no planejamento institucional.
No que interessa aqui, é relevante como surgem
projetos de conversação, de lives, por essas galerias (afinal, os museus
e instituições foram pouco consistentes nessa resposta). Destaquem-se programas
estruturados como aquele promovido pela Galeria Superfície (SP), com sua
programação Ao vivo com¸ iniciada em 24 de março, com duplas de artistas
convidados. Ou, no quadro carioca, a Mul.ti.plo, com Conversa
com artista, trazendo o crítico Paulo Sérgio Duarte, em seus canais no Instagram
e no You Tube, com vídeos diversos. Semanas depois, no início de abril, é a vez
da Galeria Lume, com o projeto Conversa com artista.
Segunda fase: abril: de norte a sul
Abril trouxe um panorama de dinâmica intensa e dispersiva. O formato live, via Instagram de início, tem o protagonismo.
O circuito de fotografia social, impactado pela suspensão de eventos, parece ganhar visibilidade “nos algoritmos”. Com prática estabelecida no uso das redes para divulgação de curso, como parte da dupla fonte de renda – cobertura de evento e oferta de workshops, os profissionais parecem investir nas lives em formas diversas tanto leituras de portfólios quanto cursos online, em geral em canais mais tradicionais como You Tube (por exemplo, entre tantos, Camila Vedoveto, em Primavera do Lestes, MS). A cobertura realizada pelo projeto documental Fotoplus parece indicar, porém, grande presença de profissionais do Rio Grande do Sul, mercado significativo, com eventos regionais, que foram suspensos.
O circuito cultural, apenas em segundo momento,
parece descobrir a ferramenta. Começam a pipocar ações, com grande destaque
para a região Nordeste, muito antes, e de forma variada, que no Sudeste.
De certa forma, o período pode marcar a última virada do Instagram sobre a presença do Facebook como meio de difusão no panorama da fotografia no Brasil. A cada dia tornava-se gradualmente difícil registrar os eventos, pois era necessário driblar o algoritmo para manter uma cobertura extensa.
Seria importante registrar que em abril destacam-se mais iniciativas individuais, de jovens fotógrafos ou pesquisadores, que promovem, a seu jeito, longas séries de lives, trazendo suas referências locais. Um exemplo, em Fortaleza, para Rastros Periféricos, de Stephanie Nojosa, ativa diariamente entre março e abril. Ou, no sul, em Porto Alegre, também como iniciativa individual, a série Pega na visão, de Emmanuel Denaui. O modelo, nesses casos, parece se caracterizar pela produção contínua, diária, quase um balanço de comunidades de profissionais. Quase previsível, muitas iniciativas similares, acabam esgotando-se com o esforço intensivo de produção.
De qualquer forma, é possível especular que essas ações e sua difusão pelas redes constituíram em si um catalisador. Efeito em que profissionais, com ações anteriores nos segmentos de ensino e difusão, parecem ter se inspirado e procurado então ocupar espaço (perdido).
Necessário lembrar que surpreendentemente os serviços de acesso a internet, de um modo ou outro, funcionaram. Em raros casos, com a crescente explosão de lives em horários concentrados, geraram suspensão ou adiamento de programas procurando driblar problemas de conexão e de dispersão de públicos. De modo secundário, parece ter ficado flagrante que usuários dos sistemas Android e IOS tinham interfaces Instagram com recursos distintos, como neste último a possibilidade de inserção de fotos.
Importante registrar que até esse momento essa produção de conversas via lives acabou constituindo um conjunto efêmero, pois a plataforma Instagram apenas preservava os vídeos por 24 horas. O acesso ao serviço IGTV, com armazenamento de vídeos, torna-se de uso regular apenas em maio. Esse aspecto, bem como a precariedade de produção das lives via Instagram acabaram dando espaço crescente a outros sistemas como a plataforma Zoom, sem conexão porém com as redes sociais. Contudo, outras soluções terão lugar com serviços de streaming com acesso simultâneo aos Facebook e You Tube, como StreamYard, que será adotado, por exemplo, pelo evento FotoSururu (Maceió). Esta solução será um dos aspectos que caracterizará a nova fase do fenômeno das lives, trocando um meio “quente” por sua imediatez e precariedade como o Instagram, por meios mais formais, controlados.
Terceira fase: maio: normatização em andamento
?
Maio poderia ser caracterizado por duas dinâmicas, de naturezas distintas. Por um lado, uma explosiva resposta da comunidade fotográfica, de norte a sul, que desenvolve, desde final de abril, campanhas de vendas de imagem com renda dirigida às mais diversas entidades de apoio a grupos em situação de risco. Entre elas: 150 fotos para São Paulo, Art Challenge cestou, 20×20 Galeria Solidária de Fotografia, POA 150 fotos, Fotógrafos por Minas, Fotografias pelo Ceará e o projeto Quarentena Books. Por outro lado, as lives, em algumas dessas iniciativas, têm papel significativo. Em algumas, de forma muito dinâmica, às dezenas; em outras, de forma mais estruturada.
Maio é marcado também pela presença de programações por parte de agentes com presença prévia no segmento de educação e cultura. Destacam-se assim, além de projetos de festivais regionais como FotoSururu, ações de coletivos como a série Nitro ao vivo, do coletivo mineiro NitroImagens, ou instituições como Casa da Photographia(Salvador), Ateliê Oriente (RJ), Circulo.da.Imagem (Natal), este último intensamente ativo desde abril. Alguns autores mantiveram-se em ação desde estão, como a Escola Baiana de Fotografia, em sua prática marcada pelo uso de sessões de longa duração.
Festivais de porte como Foto em Pauta apresentam então presença crescente e mais articulada entre canais Facebook e You Tube, ou, em escala menor, o Festival de Fotografia de Paranapiacaba, a partir de 15 de maio, que igualmente teve de repensar sua edição, marcada por um programa orientado para os temas do meio ambiente e dos protagonismos feminino e negro na fotografia.
Seria relevante
lembrar nesse panorama sobre a “fotografia falada”, enquanto conversa face a
face, que o modelo discursivo baseado no formato palestra, embora não dominante,
apresentou ocorrências que merecem atenção. Um exemplo é a programação semanal
do paulistano Marcelo Greco. Em parte, um desdobramento de sua prática
como tutor, coordenador de grupos de estudos, os encontros acabaram por constituir
um rico repertório sobre as referências pessoais, em especial autores de
fotolivros japoneses.
Junho, novamente, e
além
O uso crescente das lives, em diversos canais, agora de forma mais estruturada, não conseguiu até agora driblar a dispersão de públicos. Um traço comum, o da crescente participação de convidados, regularmente circulando em um “circuito” nacional entre nordeste e sudeste, acabou provavelmente por agravar a disputa por audiência.
O impacto do fenômeno sobre um projeto documental dedicado à fotografia no Brasil, como FotoPlus, ocorreu em desdobramentos. Numa fase inicial, em mapear e driblar, se possível, os algoritmos, e no caso, registrar as lives, via captura de telas. Numa segunda fase, em garantir abrangência da cobertura, em detrimento da profundidade, procurando antes caracterizar tendências e distribuição regional. A difusão do serviço IGTV garantiu alguma permanência desses eventos. Assim os registros em FotoPlus trazem os links disponíveis, ainda que do ponto de vista de permanência não possam ser caracterizados como estáveis. A pandemia, a seu modo, foi a forma de impor ao projeto uma atenção mais regular a esse gênero de produção visual, até então considerado como voláteis.
Mas, encerrando, sobre o quê tanto se fala ao longo dessas conversas? AInda que de início a pandemia e os desdobramentos sobre a prática profissional surjam em primeiro plano, trata-se de certo modo de uma apresentação. Em muitos casos, embora os convidados sejam partícipes de seus grupos, entram em cena como referências conhecidas. Falam de si, como profissionais, como em uma terapia também. Quase certo falam como se pela primeira vez estivesse em questão a produção de uma grande conversa, um momento novo na cultura.