Galeria: artigo – coluna “Artes visuais” – Folha de S. Paulo

Caso único, a coluna Artes Visuais, publicada no jornal Folha de S. Paulo, entre 1976 e 1977, sob direção de Luiz Ernesto Kawall, registra em cinco artigos a organização do novo departamento, sua função e desdobramentos. Inclui entrevistas com a diretora Maria Eugenia Franco e Décio Pignatari, coordenador do Centro de pesquisas. Por fim, resume as pesquisas em desenvolvimento no primeiro ano e lista os pesquisadores reunidos em cada área de pesquisa.

O acesso integral aos artigos está disponível em Idart50. Veja abaixo os links

Galeria: artigo “Décio Pignatari: um memorial da cultura”

KAWALL, Luiz Ernesto. Décio Pignatari: um memorial da cultura.
Folha de S. Paulo, 14.11.1976, Caderno de Domingo/Artes visuais, p.72.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral)

Segundo de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.


” – ‘O Centro de Pesquisas de Arte Brasileira se insere no campo pioneiro da preservação e análise da memória cultural – diz-nos Décio Pignatari, poeta, escritor, professor de Literatura, diretor do Centro de Pesquisas do IDART, da Prefeitura da Capital – que atua, diz, embora em nível mais modesto, ao lado de organismos congêneres, tais como o Centro Georges Pompidou, de Paris, e o Centro Nacional de Referência Cultural, de Brasília. Contudo, enquanto entidade municipal voltado principalmente para a realidade cultural do Município de São Paulo e da Grande São Paulo, podemos dizer que não tem similar ou, pelo menos, que não se tem conhecimento de Centros de Pesquisas semelhantes em outros países.’

– ‘A pesquisa científica do objeto-artístico e cultural ainda não possui parâmetros estratificados. Aqui, impõe-se a experimentação de métodos, o que confere ao Centro também características de núcleo modelar de formação e aperfeiçoamento de pesquisadores do objeto e do fato culturais. É, por esta razão, antes de mais nada, que, embora, em fase de implantação, optou-se pela deflagração do processo de pesquisa, juntamente com a realização das tarefas de planejamento, seja das operações de pesquisa, seja do preparo do material resultante destinado à catalogação e à consulta pública, um módulo em fase de elaboração e que nas condições presentes, deve ser estruturado de forma a permitir a ulterior implantação de um Banco de Dados Culturais, ou seja, um processo computerizado de recuperação da informação.’

– ‘As pesquisas dirigidas e a cobertura de eventos culturais são processadas segundo dois cortes: um sincrônico e outro diacrônico. Em corte sincrônico, pesquisam-se e registram-se dados atuais, de forma a facilitar o exame futuro das camadas cronológicas da cultura da cidade de São Paulo. Em corte diacrônico, pesquisam-se e registram-se manifestações e documentos das camadas culturais do passado’.

– ‘A Pesquisa Zero, ou Pesquisa Piloto, estendeu-se por cerca de sete meses, de janeiro a julho de 1976, e se configurou, para todas as áreas, no âmbito de uma temática geral, que foi a de ‘São Paulo Dentro e, Fora do Sistema’ ou ‘São Paulo Direito e Avesso’ – ou seja, as pesquisas foram endereçadas no sentido de registro e análise não só de manifestações culturais institucionalizadas, oficialmente aceitas, como também das manifestações culturais marginalizadas, ou por serem nascentes ou por estarem afetadas por algum processo de extinção. As áreas não são estanques: buscam-se nelas aquelas interfaces que propiciam trabalhos de natureza interdisciplinar.’

– ‘A massa de material coletado – chamado – ‘pacote bruto’ – passa por um processo de triagem e beneficiamento, do qual resulta o ‘pacote líquido’, um output final, que constitui a pesquisa propriamente dita’.

– ‘No momento atual, outubro de 1976, procede-se à apresentação da pesquisa de cada área para todas as demais áreas e setores, num trabalho de avaliação propriamente dita, e de classificação e ordenação do material no Arquivo Documental. Ao mesmo tempo, novas pesquisas estão sendo realizadas em todas as áreas, segundo critérios de importância, originalidade, tempo e custo’.

– ‘Em todas as áreas de pesquisas foram realizadas entrevistas gravadas, slides, fotos, filmes super 8, compra de cópias de filmes 16 e 36mm (sic) e coleta de documentos inéditos. Recolheu-se, também documentação relativa a atividades diversas de outros eventos artísticos. Editaremos vários tipos de publicações: ‘multi-mídias’, livros, boletins, audio-visuais’.

– ‘Nesses primeiros sete meses de funcionamento, em caráter ainda experimental, sem laboratórios próprios e em instalações precárias, os trabalhos de áudio recolhidos foram de 241 peças: visual, 12.865 peças; em objetos – matrizes e modelos – 54 peças; em pesquisas e reproduções – xerox, ampliação, cópias heliográficas, etc – 6.863 peças; papéis datilografados – memórias, correspondências e relatórios – [670] conjuntos; em papéis-desenho – plantas, mapas ‘croquis’ etc. – 155 unidades; e em papéis impressos – livros, programas, catálogos, cartazes – 340 peças’. (Luiz Ernesto Kawall).

N. da R. esta é a segunda reportagem sobre o trabalho do IDART, da Prefeitura de São Paulo; a primeira sob o título ‘A preservação documentada da memória cultural’, foi publicada dia 1./11.1976.”



Fonte:
KAWALL, Luiz Ernesto. Décio Pignatari: um memorial da cultura.
Folha de S. Paulo, 14.11.1976, Caderno de Domingo/Artes visuais, p.72.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6034&anchor=4268554  (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “A preservação documentada da memória cultural”

A preservação documentada da memória cultural.
Folha de S. Paulo, 31.10.1976, Ilustrada, Artes Visuais, p.56.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral)

Primeiro de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.



Pioneiro no Brasil, pluridisciplinar e interdisciplinar, o IDART, banco-de-dados culturais da Prefeitura, dá seguimento às pesquisas iniciadas por Mário de Andrade, Paulo Duarte e Sergio Milliet há 40 anos em S. Paulo.

O prefeito Olavo Setúbal foi conhecer o IDART, que funciona (mal instalado e pouco equipado) no andar térreo da Secretaria da Cultura, na rua do Carmo, antiga casa da marquesa de Santos. O secretário Max Feffer (nota: Secretário de Estado da Cultura) já propôs um convênio com o IDART em âmbito estadual. O governador Paulo Egidio, recentemente, encontrou-se com a diretora Maria Eugênia Franco e colaboradores, em casa de um artista, a fim de conhecer os trabalhos e a equipe do IDART.

Afinal, o que é o IDART? Sábato Magaldi, secretário da Cultura, responde a Artes Visuais:
– ‘O Departamento de Informação e Documentação Artísticas, IDART, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo foi projetado para constituir-se num Instituto de Documentação Artística, pluridisciplinar e interdisciplinar.’

– ‘Experiência pioneira no Brasil, sua função básica, de acordo com a lei que o criou, [é] documentar a criatividade internacional e nacional, do passado e do presente, em dez campos de atividades artísticas e nas que se encontram com estas relacionadas, canalizando a recuperação de informação, por via biblioteconômica, inicialmente, e, mais tarde, computerizada, pela formação de um ‘banco de dados’ ‘.

– ‘Abrange as seguintes disciplinas artísticas: Arquitetura, urbanismo, paisagismo; Artes Cênicas: teatro, dança, circo, espetáculo em geral; Artes Gráficas: comunicação visual, comunicação urbana, tipografia, fotografia; Artes Plásticas: pintura, desenho, gravura, escultura, objeto, manifestações plásticas diversas; Cinema, em suas realizações várias; Comunicação de Massa: imprensa, rádio, TV, publicidade e outros ‘mídias’; Desenho Industrial, em suas diversas áreas. Folclore, urbano e rural, e as várias manifestações de arte espontânea; Literatura, quando em relação com a Semiótica, nesses vários campos artísticos; Música e Som, em realizações e/ou manifestações específicas.’

– ‘Na área internacional, seu programa prevê o desenvolvimento da DISCOTECA E BIBLIOTECA DE MÚSICA (criada por Mário de Andrade em 1935) e a BIBLIOTECA DE ARTES (que Sergio Milliet idealizou, em 1945). Propõe a atualização e ampliação de seus acervos, métodos de arquivamento, registro biblioteconômico e documental, a fim de ampliar, paralelamente, vários tipos de informação, nas dez áreas artísticas de que se ocupa’.

– ‘Para cobrir as carências de informação e documentação, na área nacional o projeto criou o CENTRO DE PESQUISAS DE ARTE BRASILEIRA, que: nos dez citados campos de criatividade, fará o levantamento de nossas realizações artísticas com o objetivo básico de ‘preservação da memória nacional’. (N. da R.: o Centro é dirigido pelo poeta, escritor, Professor de Literatura e teoria de comunicação Décio Pignatari, do qual, oportunamente, publicaremos entrevista [sobre] objetivos setoriais do Centro.) (sic)

– ‘O campo de pesquisas do Centro é, especificamente, a cultura da Grande São Paulo. A documentação recolhida é toda ela reunida no Arquivo Documental de Arte Brasileira, que deverá armazenar e preparar, para uso, não apenas a documentação levantada pelas pesquisas, como toda informação sobre arte brasileira recebida de outras fontes.’

– ‘Encontra-se o Centro de Pesquisas em fase de implantação, tendo já realizado o programa correspondente à cobertura documental de alguns dos principais eventos artísticos ocorridos no 1º semestre de 1976, em São Paulo.’

– ‘Baseados nessa experiência, o projeto sugere aos Estados a criação de órgãos semelhantes, Centros de Pesquisas de Arte Brasileira, de natureza regional, que estabeleceriam um sistema de permuta de informações, por convênio e, ao mesmo tempo, canalizariam os dados recolhidos para uma Central de Informações sobre Arte Brasileira, a ser instalada em Brasília, junto ao Centro Nacional de Referência Cultural da Fundação Cultural da Cidade.

‘Paralelamente às atividades de documentação internacional e nacional, o IDART desenvolverá um ‘Programa de Divulgação das Atividades Artísticas de São Paulo’ já em fase prioritária. Encontra-se, em estudos, pela Assistência Técnica da Diretoria do Departamento, um tipo novo de ‘publicidade cultural’, que obedece a um critério didático informativo.’

Esse programa prevê a divulgação de informações sobre os eventos artísticos da cidade de São Paulo, pela imprensa, rádio, TV, cinema, ruas, estações, metrôs, etc. Terá, também, difusão estadual, nacional e latino americana.

‘Cuidará, ainda, o IDART de intercâmbio intensivo com instituições congêneres, nacionais e internacionais.’

‘O IDART pretende editar publicações de vários gêneros e instalar diversos laboratórios, para venda a preço de custo, de cópias de documentos recolhidos, como filmes, vídeo-tapes, fitas magnéticas gravadas, fotos, micro-filmes, xerocópias, qualquer outro tipo de reprografia documental.’

‘O ante-projeto de criação do Departamento de Informação Artísticas e de autoria da crítica de arte Maria Eugenia Franco, como diretora do extinto Departamento do Patrimônio Artístico-Cultural, da Secretaria Municipal de Cultura. Para sua elaboração, consultou vários especialistas. E sua Diretora, a convite da atual administração. (sic) Seu ante-projeto, criou, também, o Departamento do Patrimônio Histórico, para preservação e documentação específicas da cidade de São Paulo, proteção a monumentos e obras de valor artístico histórico a semelhança do que realiza o IPHAN, do MEC, em nível nacional.’

A esperança da diretora M. E. Franco

Maria Eugenia Franco, crítica de arte (‘Folha da Manhã’, ‘O Estado de S. Paulo’, nos anos 40/50), prêmio para o Melhor Trabalho Crítico sobre a II Bienal de São Paulo, organizadora e diretora da Seção de Arte da Biblioteca Municipal, onde manteve, durante 30 anos, uma atividade cultural de reconhecida importância para o nosso meio, é a diretora do IDART. Ela diz a Artes Visuais que o IDART, sigla adotada para o Departamento de Informação e Documentação Artística da Secretaria da Cultura, nasceu na administração do prefeito Colasuonno, sendo Secretário Municipal da Cultura, interino, Luiz Mendonça de Freitas, que como Secretário dos Negócios Extraordinários, havia transformado o antigo Departamento Municipal de Cultura em Secretaria Municipal de Cultura.

– ‘Há 40 anos quando Paulo Duarte, Mário de Andrade e outros, com apoio do Prefeito Fabio Prado, criaram o Departamento Municipal de Cultura, nada existia, no campo cultural das instituições de São Paulo. Agora, o Departamento estava atrofiado. A criação da Secretaria Municipal de Cultura foi importantíssima: concretizou uma possibilidade de desenvolvimento das atividades culturais da Prefeitura de São Paulo. Garantiu-lhes maiores verbas e uma ampliação das estruturas técnicas e administrativas. Forçou a descentralização para favorecer a expansão das várias áreas.

– ‘Quando estudei [a] lei da nova Secretaria, verifiquei que a Discoteca Municipal e a Biblioteca de Arte, criadas, respectivamente, por Mário de Andrade e Sergio Milliet: uma, há 40 anos, outra, há 30 anos, continuavam exatamente com a mesma estrutura, ou seja, tão atrofiadas quanto antes.

P – Qual foi sua atuação, diante desse fato:
R – Imediatamente, a do apelo, a do respeito de auxílio, a do protesto. Creio que tenho feito isto minha vida toda, pelas instituições da Prefeitura. Com a colaboração, esclarecida de Lenira Fracarolli, criadora e organizadora e ex-diretora da Biblioteca Infantil de São Paulo, falei com Dulce Sales Cunha Braga que, com sua argúcia de sempre, percebeu a importância do problema, levando-o a Dr. Luiz Mendonça de Freitas e ao Prefeito Miguel Colasuonno. Fui ouvida por Dr. Freitas com excepcional atenção a uma aguda compreensão de tudo que lhe expus. Dias depois, o Prefeito me convidou para dirigir o Departamento do Patrimônio artístico-Cultural, aonde se encontravam as instituições cuja defesa havia assumido. Inicialmente, recusei a honra do convite. Queria me dedicar a pesquisas, a trabalhos pessoais. Mas senti que não tinha o direto moral e cultural de negar minha colaboração. Conhecia o ‘interior’ dos problemas, e o convite me garantia plena liberdade para reformular o Departamento. Era uma oportunidade rara, que me permitiria, talvez, conseguir coisas de interesse público, pelas quais sempre lutei, algumas vezes sem resultados.’

– ‘Felizmente, deu certo: a ‘visão aberta’ encontrada na administração do prefeito Miguel Colasuonno e a lucidíssima colaboração de Dr. Luiz Mendonça de Freitas transformaram meu anteprojeto em lei. Graças, também, ao apoio total de Sábato Magaldi, ao auxílio tão firme da APCA, à atenção dos vários especialistas que consultei e à compreensão da Câmara Municipal. Mas, é justo lembrar-se: a lei foi sancionada pelo Prefeito Olavo Setubal, um homem que teve a superioridade de aprovar o projeto de seu antecessor, colocando os interesses culturais acima da competição política, num gesto rato e nobre.’

P – De onde nasceu seu projeto do IDART?
R – ‘Talvez tenha sido o resultado do ‘amadurecimento’ de experiências e vivências pessoais. Dirigi, durante trinta anos, uma Biblioteca Pluridisciplinar de Arte, e o ‘início’ de um Arquivo Documental de Arte Brasileira, onde comecei o registro dos eventos artísticos de São Paulo e da obra dos nossos artistas. Foi tudo logo paralisado, por falta de verba e de funcionários. Fiz também um estágio de seis meses, em 1948, no Setor de Documentação da UNESCO, ainda muito em começo, naquele após guerra. Nessas duas atualizações, vi e vivi sempre, ‘dificuldades’ funcionais, operacionais e materiais, para as tarefas do pesquisador, em instituições de natureza ‘para-universitária’.’

‘Por isso, no anteprojeto que elaborei, procurei definir uma estrutura orgânica, juridicamente protegida, de forma a dar aos programas culturais de trabalho, às pesquisas, sobretudo, condições necessárias à sua aplicação e ampliação progressivas. Continuava a tradição do ‘espírito de pesquisa’ iniciado, no Departamento de Cultura, por Mário de Andrade, com a colaboração de Oneyda Alvarenga e Luiz Sala.

Mas programei um organismo pluridisciplinar, justamente para impedir a tendência que têm os especialistas de se fecharem em seu campo de atividades, como se fosse um mundo único. A cultura, até mesmo em áreas específicas, como as disciplinas artísticas, é pluridisciplinar e, muitas vezes, interdisciplinar. É uma estrutura global, formada por vasos intercomunicantes. Deste conceito partiu meu projeto do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira e do IDART, concebido também em função da arte internacional.

É curioso que, ignorando o projeto de Aloisio Magalhães, para a Fundação Cultural de Brasília, e ele, meu projeto, imaginamos organismos semelhantes, em sua preocupação básica: a de preservação da ‘memória’ nacional. Mas os projetos regionais poderão ‘alimentar’ no futuro, o Centro Nacional de Referência Cultural.’

P – Como se desenvolvem as pesquisas e a escolha dos pesquisadores?
R – ‘Os pesquisadores são escolhidos por currículo, exigindo-se formação universitária, especializada na área em que deverão trabalhar. Meu projeto inicial tinha dez áreas (estamos trabalhando com oito) e seis pesquisadores em cada área, para recolherem dados sobre o presente e o passado da vida artística paulista. Temos apenas a metade. Havia proposto, também, a contratação de estudantes, como ‘auxiliares de pesquisa’. Eles nos fazem muita falta para tarefas mais simples. Os pesquisadores mais experientes deveriam ser aproveitados para a análise da documentação recolhida, preparando publicações e outros ‘mídia’ de divulgação, para aproveitamento integral do material coletado. Há vários ‘níveis’, num trabalho concebido em grande escala.’

– ‘No IDART, a programação é decidida por um colegiado de especialistas, que constituem um ‘Conselho de Pesquisas’. Este Conselho é formado por mim, como Diretora do Departamento, os Assistentes Técnicos, Lais Moura, e Jurídico da Diretoria, procuradora Maria de Lourdes Ferreira, pelo diretor do Centro de Pesquisas, Décio Pignatari, e os supervisores de cada área especializada, cujos nomes são citados adiante. Nossas reuniões foram essenciais, sobretudo nos primeiros meses, para definirmos, num trabalho de equipe as diretrizes gerais e particulares da escolha dos temas a serem pesquisados e o desenvolvimento das várias tarefas.’

– ‘Estamos realizando, talvez, um programa inédito, no Brasil, ao nos propormos estudar e documentar os vários campos de cultura artística de São Paulo, tomada como laboratório de uma experiência de estética sociológica: levantamento e análise pluridisciplinar e interdisciplinar de uma cultura artística urbana, surgida numa cidade industrial brasileira.

– ‘Tive uma formação sociológica (Escola de Sociologia e Política e uma experiência marcante: assisti a aulas de Claude Lévi-Strauss). Talvez, por isso, penso muito em ter, em nossa equipe, especialistas em estética sociológica, para um enfoque científico, sob o ângulo sociológico, do material que está sendo levantado por nós.’

– ‘Quanto aos pesquisadores, serão garantidos seus ‘direitos autorais” e a ‘prioridade’ ao uso de elementos recolhidos, quando iniciadores de um trabalho, individualmente ou em equipe.’

– ‘Ainda não temos as condições ideais de trabalho. Não se monta um Centro de Pesquisas tão complexo, num ano apenas. Nos faltam ainda um local adequado, salas climatizadas para Arquivos, Oficinas gráficas, Laboratórios de som, fotografia e microfilmagem. Toda a estrutura operacional e técnica, enfim. Também os equipamentos para o Arquivo Documental e os métodos de armazenagem de documentos precisam ser rigorosamente estudados. Não temos a infra-estrutura indispensável.’

– ‘Mas, depois da visita do Prefeito Olavo Setubal e de um importante encontro do IDART com o governador Paulo Egidio Martins, passei a acreditar um pouco mais no futuro do nosso Departamento.’

Áreas e supervisores do Centro de Pesquisas

As áreas do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART, e respectivos supervisores e equipes, são estas:

Arquitetura e Desenho Industrial – Supervisor, arquiteto Claudio da Rosa Ferlauto; pesquisadores: arquitetos Bluette Fortes Santa Clara, João Batista Novelli Junior, Luiz Otavio Zamarioli e Otavio Saito.

Artes Cênicas – Supervisora: Maria Thereza Vargas; pesquisadores: Carlos Eugenio Marcondes de Moura, Claudia de Alencar Bittencourt, Linneu Moreira Dias e Angela Muraro Alves de Lima (sic).

Artes Gráficas – Supervisor: Fernando Lemos; pesquisadores: Eduardo de Jesus Rodrigues e Hermelindo Fiaminghi, e Julio Plaza.

Artes Plásticas – Supervisor: Raphael Buongermino Netto; pesquisadores: Daisy Valle Machado Peccinini, Maria Vanessa Rego de Barros Cavalcanti, Radha Abramo, Regina Helena Dutra Rodrigues Ferreira da Silva e Sonia Pietro.

Arte Popular – Leila Coelho Frota.

Cinema – Supervisor: Carlos Roberto Rodrigues de Souza; pesquisadores: Eliana de Oliveira Queiroz, José Carvalho Motta e Zulmira Ribeiro Tavares.

Comunicação de massa – Supervisor: Decio Pignatari; pesquisadores: Carlos Alberto Valero de Figueiredo, Eliana Lobo de Andrade Jorge, Flávio Luiz Porto da Silva, Maria Luisa Biandy Vercesi (sic) e Rita Okamura.

Literatura e Semiótica – Supervisora: Lucrécia D’Alessio Ferrara; pesquisadores: Cristine Marie Tedeschi Conforti Serroni, Diná Yoshizak, Erson de Martins de Oliveira, Norval Baitello Junior.

Música e Som – Supervisor: Mastro Damiano Cozzella; pesquisadores: Dorotéa Machado Kerr, Fernando C. Duarte e Ricardo Lobo de Andrade.

Arquivo documental – Supervisora: Maria José Camargo de Carvalho


Fonte:
A preservação documentada da memória cultural.
Folha de S. Paulo, 31.10.1976, Ilustrada, Artes Visuais, p.56.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6020&anchor=5868860  (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “Memória artística de São Paulo”

Memória artística de São Paulo.
Folha de S Paulo, 19.12.1976, Artes visuais, p.96.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall

(texto integral, nossos negritos,
obedecendo a grafia e pontuação original)

Quarto de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.

Por questões de espaço, “Artes Visuais” vem publicando, parceladamente, uma série de depoimentos sobre o IDART, Departamento de Informação e Documentação Artística, da Secretaria Municipal de Cultura, criado em maio de 1975.

Em reportagens iniciais, com entrevistas de Sábato Magaldi, Secretário Municipal de Cultura, Maria Eugênia Franco, autora do anteprojeto do IDART e sua diretora geral, e Décio Pignatari, diretor do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira, daquele Departamento, informamos sobre sua história e programas de trabalho. (A.V., 31.10, 14.11 e 05.12).

Resultado da coordenção de pontos de vista, na área cultural, entre o Prefeito Miguel Colasuonno e o Prefeito Olavo Setúbal (o primeiro enviou o projeto de lei à Câmara Municipal e o segundo sancionou a lei), apoiado pelo autor da lei, o primeiro Secretário Municipal de Cultura, de São Paulo, Luiz Mendonça de Freitas, e seu sucessor, Sábato Magaldi, o IDART, depois de um ano, já pode contar o que está realizando seu Centro de Pesquisas de Arte Brasileira. O IDART incorpora ainda a Discoteca Municipal, criada por Mário de Andrade, organizada e dirigida por Oneyda Alvarenga, depois por Carmen Martins Helal, e a Biblioteca de Artes, antiga Seção de Arte da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, criada por Sérgio Milliet, organizada e dirigida por Maria Eugênia Franco, agora sob a direção de Ruth von Ockel Diem. A Biblioteca de Artes está realizando, na vitrine da Biblioteca Municipal, e na ‘Sala de Arte Sérgio Milliet’, exposição didática e bibliográfica sobre a obra de Di Cavalcanti. Essa mostra, muito visitada, teve organização de Suely Cabrerizo, encarregada do Setor de Exposições Didáticas, com supervisão de Ruth von Ockel Diem.

Hoje apresentaremos informações sobre a primeira pesquisa, “São Paulo, direito e avesso”, nas quais os Supervisores de suas oito áreas de estudo e registro documental das atividades artísticas de São Paulo, apresentam o que cada equipe de pesquisadores estudou e coletou, no primeiro semestre deste ano: exemplos significativos do que a cidade fez, nos vários campos das artes, em manifestações tradicionais e nas que se encontram fora dos sistemas convencionais. A segunda etapa dos trabalhos complementou a primeira, permitindo um levantamento panorâmico das realizações artísticas de São Paulo, em 1976, numa importante ‘memória documental.”

O IDART está programando publicações, exposições e audio-visuais, de vários tipo, para divulgação das pesquisas realizadas.

Áreas de atuação do IDART

As oito áreas que compõem o IDART abrangem as mais diferentes manifestações artísticas, tais como: Música/Som, Literatura e Semiótica, Comunicações de Massa (Jornalismo, Publicidade, Rádio e Televisão), Cinema, Arte Popular (folclore), Artes Plásticas, Artes Gráficas, Artes Cênicas, Arquitetura e Desenho Industrial.

ARQUITETURA E DESENHO INDUSTRIAL

A pesquisa de Arquitetura e Desenho Industrial objetivou a análise de dois tipos de manifestação de arquitetura e design, em situações de extremos no universo da edificação em São Paulo. A caracterização dos extremos, definida a partir da investigação de dois grandes espaços, determinou a escolhas de: um lado o Parque Anhembi, identificado como o polo sofisticado da produção arquitetônica e do design; e de outro, o Circo no polo marginal dessa produção. Estes dois tipos de atividades culturais, surgem em situações específicas de necessidades, recursos, alcance urbano, criação e produção, tecnologia, realização e uso, o que é mostrado dentro da pesquisa nos universos formados pelo Circo e pelo Anhembi.

Espera o Centro de Pesquisas do IDART criar, no próximo ano, em caráter separado, a Área de Desenho Industrial, considerando sua importância, em São Paulo. Está sendo pleiteada ao Prefeito o retorno, ao departamento, de cargos de pesquisadores pertencentes ao projeto. Entre estes, alguns seriam reservados para especialistas em ‘industrial – design’.

Supervisor: Arquiteto Claudio da Rosa Ferlauto; Pesquisadores: Arquitetos Bluette Fortes Santa Clara, João Baptista Novelli Junior, Luiz Otavio Zamarioli e Otávio Saito.

ARTES GRÁFICAS

Levantamento global dos processos gráficos, para fins didáticos e eventuais edições em Super 8/Roteiro de Suporte adequado para a coleta de documentação/Armazenamento de informações sobre os métodos gráficos artesanais e eletrônicos do parque Industrial de São Paulo/Aspectos tecnológicos que na década de 1940 fizeram da Tipografia e da Litografia artesanal, um setor marginalizado da Indústria Gráfico-Cultural.

‘A Litografia Artesanal e a Eletrônica’ – Colocação dos grandes (e) pequenos cartazes dentro do contexto urbano.

‘O Outdoor e o Cartaz de Circo’ – um Sistema/Não Sistema – Os meios de criação, produção e distribuição desses cartazes em São Paulo.

Supervisor: Fernando Lemos. Pesquisadores: Eduardo de Jesus Rodrigues e Hermelindo Fiaminghi, especialistas em comunicação visual e artes gráficas. A equipe será integrada, agora, por Julio Plaza.

ARTES PLÁSTICAS

A área de Artes Plásticas focalizou a atividade artística em São Paulo no 1º semestre de 1976, através dos conceitos de LINGUAGENS CONVENCIONAIS e LINGUAGENS EXPERIMENTAIS, analisando os processos produtivos, os objetos/produtos e o sistemas de veiculação. Por linguagens Convencionais foram entendidos os trabalhos que utilizam processos produtivos mais ou menos enraizados em nossa tradição cultural: o desenho, a pintura e a gravura. Por Linguagens Experimentais entenderam-se os processos de produção artística que empregam novos recursos tecnológicos ou trabalhos de artistas que, por razões estéticas e/ou ideológicas procuram se desligar dos sistemas habituais de veiculação.

Supervisor: Raphael Buongermino Netto; Pesquisadores: Daisy Valle Machado Peccinini, Maria Vanessa Rego de Barros Cavalcanti, Radha Abramo, Regina Helena Dutra Rodrigues Ferreira da Silva e Sonia Prieto, todos portadores de títulos universitários na área de Artes Plásticas.

ARTE POPULAR

A pesquisadora e etnógrafa Lélia Coelho Frota iniciou a partir de setembro, pesquisa de arte popular, em São Paulo e periferia, documentando o contexto social e a tecnologia de artífices nordestinos atuantes no Brás e na Moóca.

Pretende-se desenvolver a documentação de arte popular, a partir do próximo ano, por intermédio de acordo com a Escola de Folclore, dirigida pelo Professor Rossini Tavares de Lima.

Nota da redação – No próximo domingo publicaremos a quinta e última reportagem sobre o IDART, com as outras áreas do Centro de pesquisas. A. V.



Fonte:
Memória artística de São Paulo.
Folha de S Paulo, 19.12.1976, Artes visuais, p.96.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6069&anchor=4329482 (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “De Sergio Milliet ao IDART”

De Sergio Milliet ao IDART.
Folha de S Paulo, 05.12.1976, Artes visuais, p.104.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral, nossos negritos)

Terceiro de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.

São Paulo comemora o 10ª aniversário da morte de Sergio Milliet. Reconhecendo a grande importância da atuação de Sergio, para o desenvolvimento das artes plásticas, em São Paulo, Artes Visuais considera que a melhor homenagem a lhe ser prestada é a prova do desenvolvimento de seu trabalho pioneiro, iniciado na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, com a colaboração da crítica de arte Maria Eugenia Franco, agora por ela continuado, com a criação do Departamento de Informação e Documentação Artísticas – IDART – na Secretaria Municipal de Cultura, de cujo projeto é autora e do qual é diretora geral.

– “Quando criou, na Biblioteca Municipal, a Seção de Arte, diz Maria Eugenia Franco, Sergio Milliet não planejou apenas uma biblioteca especializada. Naquela época, 1944, não existia, em São Paulo, nenhum Museu de Arte Moderna. Nem mesmo o Museu de Arte fora criado. Para estimular nossos artistas e iniciar um núcleo museológico, Sergio começou a comprar originais de artistas de São Paulo. Ninguém vendia nada. Sergio estabeleceu uma cota igual de valor, para todos, e começou a adquirir óleos, desenhos, gravuras e algumas esculturas. Esta atividade foi paralisada, a partir do surgimento dos Museus.” – “É projeto meu expor esta coleção, em conjunto, com as datas de tombamento das obras, como prova da atuação pioneira de Sergio Milliet, na área museológica de São Paulo”. – “Mas, nas artes plásticas, sua atuação não foi importante somente na Biblioteca. Como crítico de arte, estimulou artistas, orientou Salões de Arte Moderna e outras exposições. E foi ele o reformulador da Bienal de São Paulo. Sob sua direção, na 2ª, 3ª e 4ª Bienais, foram realizadas algumas das mais importantes manifestações nacionais e internacionais daquela Instituição.”

“No entanto, como o objetivo desta matéria é historiar o IDART, isto é ligar o início das realizações pioneiras de Sergio Milliet, na Biblioteca, com o trabalho atual, que estou desenvolvendo, na Secretaria Municipal de Cultura, é para mim uma questão ética e verdade histórica citar os nomes dos especialistas que consultei, ao elaborar o ante-projeto do IDART. Na área de patrimônio histórico, Luiz Saia, Nestor Goulart Reis Filho, Carlos Lemos, Hernani da Silva Bruno (sic) e Eduardo de Jesus Nascimento; para a Biblioteca de Arte, Maria Beatriz de Almeida, Laila Rahal, Yolanda Amadei, João Thomaz Ribeiro; sobre a Discoteca, Oneyda Alvarenga e Carmem Martins Helal. E a respeito do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira, especialistas das várias disciplinas: Pietro Maria Bardi, Walter Zanini, Flávio Motta, Ernestina Karmann, Mário Gruber Correia, Wesley Duke Lee (Artes Plásticas), Décio Pignatari (Comunicação de Massa e Teoria da Informação), Alexandre Wollner e Fernando Lemos (Artes Gráficas), Paulo Emílio Sales Gomes e Rudá de Andrade (Cinema), Alfredo Mesquita, Décio de Almeida Prado, Miroel Silveira, Ilka Marinho Zanotto e Sábato Magaldi (Teatro). Esta reunião, realizada na casa de Alfredo Mesquita, tornou-se histórica, por dois motivos. Aí Sábato Magaldi tomou conhecimento do projeto, tendo portanto elementos para defendê-lo e apoiá-lo, quando se tornou Secretário Municipal de Cultura. E aí, também, ficou melhor definida a ação que teria a Associação Paulista de Críticos de Arte, junto à Câmara Municipal e o Prefeito Miguel Colasuonno. A atuação firme e brilhantíssima de Ilka Zanotto, como então presidente da APCA, acompanhada por Ernestina Karmann, a primeira a levar o problema à Associação, Helena Silveira, José da Veiga Oliveira e Eduardo de Jesus Nascimento prova a importância do apoio de entidades especializadas aos problemas de nossas instituições culturais.”

“Mais uma vez, quero repetir meu agradecimento, a Luiz Mendonça de Freitas, Secretário de Negócios Extraordinários do Prefeito Miguel Colasuonno, por ter sido o autor da lei que criou o IDART. E agradeço também o apoio do pintor Mario Gruber Correia, a favor do IDART, junto ao Governador Paulo Egydio Martins, que tão bem compreendeu nosso trabalho.”

-“Mas depois de ter ouvido os responsáveis pela montagem e implantação do Centro de Pesquisas do IDART, muito tem a contar, sinteticamente, cada um dos Supervisores das Assessorias Técnicas de Pesquisa, dirigindo equipes de especialistas, em dez áreas de disciplinas artísticas, que trabalham pela ‘preservação da memória nacional’, no campo das realizações de uma cidade de características tão definidas como São Paulo e a Grande São Paulo, ou seja, a arte nascida num centro industrial brasileiro. Narram eles a prova confortadora do início de um importante trabalho”.

Nota da R. – Por absoluta falta de espaço, Artes Visuais deixa de publicar, hoje, a súmula dos trabalhos dos supervisores do Centro de Pesquisas do IDART, o que faremos em próxima edição. AV publicou dia 31/10 uma página sobre o projeto e programas do IDART, com entrevista de Sábado Magaldi e Maria Eugenia Franco. Posteriormente, em 14/11, publicamos uma entrevista de Décio Pignatari, diretor do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART.


Fonte:
De Sergio Milliet ao IDART. Folha de S. Paulo, 05.12.1976, Artes visuais, p.104.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6055&anchor=4270672 (acesso para assinantes)

perfil: ETP Fotografia (1993-2007)

Os posts da série perfil apresentam relatos curtos
sobre membros e áreas associadas ao IDART e
à Divisão de Pesquisas, perfis realizado por seus contemporâneos.

A constituição informal da Equipe Técnica de Pesquisa em Fotografia tem lugar na gestão de Maria Alice Gouveia (DP) no ano de 1993. Surge como decorrência do lançamento do livro Fotografia: Cultura e fotografia paulistana no século XX (1992), de Mônica Junqueira de Camargo e Ricardo Mendes, integrante do projeto São Paulo: a cidade e a cultura proposto por Teixeira Coelho em sua gestão como diretor (DP).

A ausência de uma área dedicada à pesquisa histórica sobre o panorama fotográfico na cidade é uma marca que vem desde a criação do Idart. De forma curiosa, ecoa omissão similar na década de 1960 em iniciativas de impacto como a criação em 1966 da Escola de Comunicações e Artes da USP, que em seu percurso permaneceu alheia ao campo enquanto formação profissional. O fato tem algo de paradoxal por corresponder aquele momento a uma expansão significativa, internacional e local, da presença dessa mídia no panorama cultural.

Ainda assim é necessário registrar que essa fratura no projeto do Centro de Documentação foi, em certos momentos, reconhecida em ações de algumas equipes. Uma delas coube à ETP Artes Gráficas, que ao final da década de 1980, em projeto de Paulo Cezar Alves Goulart, resultou no texto de pesquisa Fotografia em São Paulo: anúncios e notícias em jornais e almanaques: 1839-1900. Esse primeiro gesto, resultaria em 1993 em texto ampliado, em parceira de Paulo Goulart e Ricardo Mendes – Noticiário geral da photographia paulistana: 1839-1900, publicado, completamente atualizado, em 2007 em colaboração entre IMESP e CCSP.

Outra ação fundamental teve lugar na ETP Artes plásticas em projeto de Yvoty Macambira que na segunda metade da década de 1980 constituiu um primeiro conjunto documental com entrevistas de fotógrafos como Stefania Bril, Hildegard Rosenthal e outros.

Em março de 1993 a ETP Fotografia começa sua ação, em espaço improvisado no corredor em frente à diretoria, com Ricardo Mendes e Fátima Arcoverde.

Em seus catorze anos de atuação houve pouco espaço para uma proposta de formalização, considerando a pressão crescente relativa a própria atuação da divisão. A possibilidade de criação de equipes para projetos especiais, como poderia ser o caso aqui, era um caminho possível como ação de oficialização, sem continuidade porém. Ainda assim, a gestão e inserção da equipe no conjunto das equipes, nessa condição, não representou em si um problema aos trabalhos desenvolvidos.

Ricardo Mendes, 07.01.2025

1978: Maria Eugenia Franco – prefácio da série Pesquisa

Em 1978, para o lançamento da série Pesquisa, ambicioso conjunto que registra parte da produção do IDART, iniciada dois anos antes, Maria Eugenia Franco, diretora do departamento, escreve o prefácio das publicações. Aqui, de forma sucinta, registra os passos inicias da documentação e pesquisa em arte e comunicação propostas pelo projeto.

Revela-se um conjunto ambicioso de publicações, anuários e outros produtos, bem como surgem a marca dos primeiros diretores do Centro de Pesquisa – Décio Pignatari e Paulo Emílio Salles Gomes.

Extraída do volume:
DIAS, Linneu. Corpo de Baile Municipal.
São Paulo: IDART, 1978. Pesquisa, 2, p.5-6.

Foram mantidos os negritos e caixas altas do original,
bem como a ortografia de época.

“O Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART foi criado a partir de um princípio da história, a para-história, no qual o pensamento de uma época se revela como a contribuição mais legítima e mais viva para o estudo da evolução de uma comunidade. Os trabalhos que realizamos têm a função de investigar e preservar a memória artística nacional do presente e do passado, um dos elementos e fundamentos comprovadores da dinâmica cultural do país.

Nossa filosofia do agir e atuar apoia-se numa noção de ‘arte’ fundamentalmente estética. Em consequência, multidisciplinar e interdisciplinar.

Abrangemos as várias disciplinas artísticas e as que com estas se relacionam: arquitetura e urbanismo, artes cênicas, artes gráficas, artes plásticas, cinema, comunicação de massa (imprensa, rádio, televisão, publicidade), desenho industrial, literatura e música.

Vemos a arte como objeto/fato-criação-intuição e como teoria-conceito-pensamento. Acolhemos todos os códigos e linguagens de produções artísticas. Admitimos as diversas correntes teóricas que as analisam e interpretam, porque todas enriquecem o conhecimento crítico e fenomenológico de suas raízes mais profundas.

A partir de 1976, iniciamos o estudo sistemático e programado das artes nacionais, a pesquisa da invenção, da criatividade brasileira, sob ângulos vários de suas muitas faces e interfaces. Em todos os campos e subcampos procuramos investigar as expressões criativas eruditas, indígenas e populares.

Tomando como corpus geral das pesquisas as manifestações de arte que surgem no Brasil, o IDART as estuda a partir de uma coletividade – São Paulo e do eixo cultural São Paulo-Rio, quando se verificam cruzamentos de influências entre os dois centros. É esta uma opção de natureza econômico-pragmática e, ao mesmo tempo, uma experiência consciente de estética sociológica.

Toda grande cidade é fonte e lago. Gera, produz, mas também recebe várias forças culturais vindas de outras nascentes comunitárias.

São Paulo revela possuir particular interesse e riqueza, quando utilizada como base de investigações sobre arte contemporânea brasileira, porque é uma cidade-pólo, de onde emergem e por onde passam alguns dos principais acontecimentos artísticos de origem nacional / estadual e internacional. Sofre também influências étnicas diversas, por intermédio de suas grandes colônias estrangeiras.

Neste ‘laboratório’ estético, os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores das Áreas e Sub/Áreas do Centro de Pesquisas do IDART dividem-se em dois setores paralelos: documentação de eventos e pesquisas temáticas. Desses trabalhos resultam atividades editoriais e o Arquivo Multimeios.

Destinado ao uso interno è à consulta pública, o Arquivo é o reservatório do produto global das pesquisas e doações recebidas. ‘Memória latente’ para estudiosos de hoje e do futuro, concentra vários mídia de registros documentais: processos cinéticos, fotos, fitas magnéticas gravadas e transcritas, informes inéditos, folhetos, catálogos, programas, cartazes, etc.

(p.6)

No plano editorial, ‘memória dinâmica’, além dos projetos multimeios – exposições didáticas e documentais, filmes, audiovisuais, vídeo tapes, gravações sonoras – programou o IDART livros, álbuns, revistas, anuários, boletins.

Dos estudos temáticos surgirão as coleções PESQUISA e DOCUMENTO VIVO, cujos primeiros volumes entraram em processamento gráfico no início de 1978. Lamentamos o atraso de seu lançamento, explicável pelos sofridos bloqueios e meandros da burocracia.

Essas coleções propõem o estudo da arte brasileira em São Paulo com abordagens sincrônicas e/ou diacrônicas. Do presente e do passado serão divulgados documentos e informações, narrativas historiográficas e a metalinguagem dos fatos e objetos estéticos, no universo da realidade brasileira.

Os eventos artísticos da atualidade são preservados tanto seletivamente, nos ANUÁRIOS das Áreas, quanto genericamente, nos BOLETINS da Hemeroteca, setor especializado do Arquivo Multimeios. Esse setor cataloga as páginas de arte da imprensa brasileira cotidiana e periódica de São Paulo-Rio e, quando possível, de outros Estados. Trabalho diário sistemático será editado em fascículos a partir de 1979. Quanto aos ANUÁRIOS, destacam as realizações e atividades mais significativas das Áreas artísticas, no contexto sócio-cultural da cidade. Apresentam sínteses, dados referenciais, fixando a situação do fato no próprio instante em que ocorre. Transmitem a imagem de segmentos das artes em São Paulo, no panorama de nosso momento. Serão ‘fontes primárias’, no futuro.

No que se refere à produção das Equipes Especializadas, o princípio ético e profissional estabelecido pelo Diretor do IDART e Diretores do Centro de Pesquisa tem sido o de incentivar a autogestão das Áreas, desde que existem especificidades tipológicas em cada uma. Evitamos o dirigismo cultural, respeitando a plena liberdade de expressão. Procuramos estimular a consciência da responsabilidade individual do pesquisador, como autor do trabalho científico, tanto no texto quanto nas várias etapas das tarefas de campo, o que tem resultado num processo salutar de seleção espontânea.

Os critérios básicos e a programação global/orgânica têm sido estabelecido pelos Diretores, ouvido o Conselho de Pesquisas, formado pelos Supervisores de Áreas, Assistente Jurídico e Assistentes Técnicos.

Esta série inicial de publicações corresponde ao período 1976/77, em que Décio Pignatari, então Diretor do Centro de Pesquisa do IDART, programou para todas as Áreas uma temática geral: ARTE EM SÃO PAULO, DENTRO E FORA DO SISTEMA, ‘no sentido de registro e análise não só de manifestações institucionalizadas, como também de manifestações culturais marginalizadas’, segundo palavras do autor do projeto.

Com a saída voluntária de Décio Pignatari, Paulo Emílio Salles Gomes, assumindo o mesmo cargo, acompanhou o término das pesquisas, em seu último trabalho de direção cultural.

Verbas insuficientes nos impediram de realizar o programa da série DOCUMENTO VIVO, que divulgaria o grande e precioso volume de registros e informes sobre arte brasileira coletados e produzidos pelo Centro de Pesquisas, em suas oito Áreas. Com a assistência técnica de Fernando Lemos, para exame das possibilidades gráficas, decidimos lançar os ANUÁRIOS – projeto de Paulo Emílio – e iniciar a coleção PESQUISA. Escolhemos juntos os temas ainda não abordados em livro, ao menos sob os ângulos focalizados pelo IDART.

Representam estes trabalhos o testemunho de jovens pesquisadores, documentando, narrando e/ou analisando a arte de nosso meio e nosso tempo.

Maria Eugenia Franco
IDART – Diretora”