Ricardo Mendes (01.12.96) |
Este ensaio tem por objetivo avaliar a presença da fotografia astronômica na mídia contemporânea
a partir do contexto paulistano, considerando as possibilidades de comunicação possíveis numa metrópole
desse porte (1).
O motivo imediato para sua proposição é aparentemente prosaico. Andando pela avenida Paulista,
em agosto de 1996, observo um novo painel eletrônico de grandes dimensões que veicula imagens em movimento (2). Sua
presença é marcante por permitir a reprodução de imagens com alta qualidade em termos de definição
e gama de cores. Imagem em movimento, no século do cinema, elevada à escala urbana, à maneira de Blade Runner,
filme de Ridley Scott de 1982. Veiculando anúncios e notícias, paira o luminoso sobre a avenida. E lá estão: imagens
do satélite Ganimedes, uma das luas de Júpiter, brilham sobre a cidade (3).
O que podem significar essas imagens para os quem passam por ali?
A partir do final de 1992 com o conserto do telescópio espacial Hubble (4), as imagens astronômicas,
que freqüentavam os noticiários com alguma regularidade desde a corrida a Lua nos anos 60, tornam-se uma presença
constante. Instrumento de marketing, a divulgação dessas imagens "científicas" não parece
no entanto ter merecido qualquer tipo de avaliação no contexto local.
O primeiro recorte proposto para este ensaio partia desse confronto entre imagem científica e o contexto
periférico de sua difusão. A expectativa era refletir sobre o seguinte argumento: à semelhança do século
XV estamos vivendo uma experiência similar - construindo as imagens de um Novo Mundo. Essa explosão de informações
técnicas e visuais sobre o espaço não mereceriam um acompanhamento mais atento? Não se trata apenas de imagens
isoladas, mas um conjunto de informações que alimenta e modificará os modelos propostos para o Universo. Se o
caráter especulativo e introdutório do texto parece minimizar a questão, é necessário lembrar
que o assunto se insere na mesma modalidade das proposições de Copérnico e as suas conseqüências.
Como procedimento metodológico foi proposto inicialmente uma avaliação de como o tema poderia
ser problematizado a partir da mídia impressa e eletrônica. Como contraponto, estavam previstos depoimentos com especialistas
em difusão científica - Ulisses Capozzoli, do jornal O Estado de S.Paulo, astrônomos como Augusto Daminelli
do Instituto Astronômico e Geofísico - USP com presença freqüente na mídia e especialistas na área
de humanidades como Ana Maria Beluzzo, curadora da exposição Brasil dos Viajantes (MASP, 1995).
No entanto, o desenvolvimento de um ensaio segundo esse procedimento mostrou-se frágil por exigir
uma avaliação prévia mais consistente. Decidiu-se por um balanço das principais questões já
levantadas através da experiência de documentação realizada pela Equipe Técnica de Pesquisas em Fotografia
da Divisão de Pesquisas/CCSP. Embora o tema fosse secundário na cobertura, era possível acompanhar sua presença
em seções da imprensa não dedicadas à informação científica.
Assim, este artigo é formalmente um relatório de avaliação de informações
de fontes diversas: mídia impressa (jornais e bancos de dados via CD-ROM), músicas e filmes, internet, mercado
editorial... O texto foi desenvolvido como um laboratório de ensaio para especulações ao redor do tema, que
objetivam justificar um trabalho posterior de maior extensão. Embora o caráter especulativo e a estrutura adotada, enfatizando
o relato pessoal, pareçam no contexto universitário sem aprovação como metodologia científica,
essas opções pareceram mais adequadas ao propósito de avaliar o impacto dessas imagens sobre o conhecimento.
No mundo da lua: 1 - 2 - 3
Desde que o telescópio caolho Hubble foi consertado, defeito cujas conseqüências além
do econômico deveriam ser medidas pelos sinais de decepção refletidos na imprensa, a mídia foi mergulhada por imagens
de um nova paisagem. Algumas primeiras impressões, restritas ao universos da mídia e distante do 'homem das ruas', foram
manifestas através de articulistas como Paulo Francis, Arnaldo Jabor e Marcelo Coelho.
1
Em março de 1995, a ESA - European Spacial Agency divulgou imagem do globo terrestre elaborada a partir
de radar, cujo processamento resultou numa representação deformada da Terra (6).
O articulista do jornal Folha de S.Paulo - Marcelo Coelho comenta a imagem em sua coluna de (FSP/24.03.95):
" (...) A Terra se revela, como dizia a legenda, 'nem azul, nem redonda' (7). E dizer isso é dizer pouco. Surge medonha,
objeto de consternação e de escárnio para os outros astros do firmamento.(...)De qualquer modo, senti-me
tão incrédulo quanto um medieval a quem revelassem, pela primeira vez, que a terra é redonda.(...) Menos do
que um planeta monstruoso, a foto parece retratar, na verdade, uma característica notável de nossa época:
a tendência para a precisão extrema. Uma diferença de 200 metros na superfície da Terra não é
quase nada; mas exagerando-a brutalmente, a foto corresponde a importância que se dá, hoje em dia, para a medição
exata. (...) Mas a aventura fotográfica dos cientistas europeus também pode ser comentada de outro ponto de vista.
É também uma experiência estética; uma espécie de expressionismo via satélite. Como
se a imagem apolínea da Terra, com o azul clássico, rafaelesco, opalescente que nos foi noticiado por Gagarin, tivesse
de dar lugar a uma versão mais moderna, no estilo de pintores como Kokoschka, Soutine ou Vlaminck. O espelho redondo, vago e
perfeito em que nos víamos não mais nos satisfaz. (...)".
Se a inserção dessa imagem motivou esse artigo de Marcelo Coelho, cujas questões (como o horror
frente à imagem e o gosto pela precisão de nossa época) permitiriam uma longa apreciação,
é ilustrativo mencionar que uma semana após o cartunista Angeli, do mesmo jornal, utilizaria como ponto de partida para
uma charge sobre o presidente Fernando Henrique Cardoso a mesma foto do satélite, sendo publicada junto aos editoriais (8).
2
Em janeiro de 1996, são divulgadas imagens do telescópio espacial Hubble (9), revelando um número
superior de galáxias ao previsto, o que implicaria em revisão do tamanho do Universo. O impacto da notícia poderia ser
aferido, fora do âmbito científico, pelo número de cronistas que mencionam diretamente o evento ou apenas o citam.
Arnaldo Jabor é um deles, em artigo publicado na Folha de S.Paulo em 23.01.96: "Diante
do Boeing, eu sou o índio de Caramuru fascinado. Me humilha e ofende a sonda Galileu chegando em Júpiter e o Hubble
descobrindo bilhões de galáxias enquanto o Paulo Paim e Lula tentam esmagar a liberdade progressiva de Vicentinho" (10).
3
Ainda na esteira das imagens do Hubble, Paulo Francis pode ser incluso nesse primeiro painel de avaliação,
através de artigo no jornal O Estado de S.Paulo: "Uma nova estrela detectada pelo telescópio Hubble. Tem 14 bilhões
de anos, na estimativa dos astrônomos. É anterior ao chamado Big Bang, o estouro que teria criado o mundo. Isso
é a pá de cal na teoria de que o universo teve uma origem única, e, claro, por ilação, é
um golpe de morte no monoteísmo./ Teorias astronômicas dançam toda semana graças ao Hubble. Edwin Hubble
ficou famoso por descobrir 10 milhões de galáxias como a nossa. O telescópio que leva seu nome descobriu
mais 40 milhões de galáxias. Ou seja, o nosso planeta, em matéria de presença, é uma titica." (11)
Enumerando questões
Se é possível traçar um denominador comum a estes exemplos, talvez o melhor seja apontar
a reavaliação da inserção da espécie humana no Universo. Em busca de um procedimento sistemático
vamos elencar alguns pontos.
As belas imagens da Lua produzidas pelos irmãos Paul e Prosper Henry na década de 1890 ainda podem nos
fascinar. E o sinal do interesse por essas imagens no período pode ser medido pela presença, por exemplo, do Atlas
photographique de la lune de Michael Lowy e Pierre-Henri Puiseux, de 1896, resultado de trabalhos desenvolvidos no Observatoire
de Paris, no acervo da biblioteca da Escola Politécnica da USP, ou as imagens pertencentes à coleção
Teresa Cristina, da Fundação Biblioteca Nacional (12).
Michel Frizot , no livro Le Medium des temps modernes (1880-1939), na coleção Histoire
de voir, assim posiciona esses trabalhos no capítulo L'inventaire de la planête: "Dans le contexte
du symbolisme fin de siècle, porté par la poétique crépusculaire et la fascination stellaire, ces nouveautés
scientifiques, perçues comme des images de vrais objets à échelle presque humaine, ont certainement contribué
à l'enrichissment de l'imaginaire collectif au-delà des contigences terrestres." (13)
O contexto contemporâneo mostra um completa inversão dessa situação. O conjunto de imagens
astronômicas, e mesmo o conjunto geral de imagens científicas, não pode ser apresentado estritamente como peças
de documentação, provas de verdade.
Dois exemplos ilustram o ponto com precisão. Primeiro, diversos segmentos da pesquisa científica passaram
a produzir registros, desde a última década do século passado, utilizando segmento do espectro eletromagnético
fora do campo visível. Raios X, infravermelhos e ultravioletas, por exemplo. Para isso, as informações eram decodificadas
através de processos e materiais sensíveis que permitissem a visibilidade para o olho humano. Um novo universo físico
surgia. No âmbito da fotografia astronômica, o recurso sofisticou-se. A imagem enfim passa de documento baseado numa
analogia de luz e sombra através de um meio (físico-químico no caso) para uma interpretação progressivamente
simbólica de dados. Como exemplo, a imagem da Terra produzida pelo satélite europeu ERS-1 (14). As imagens passam a ser fruto
de processamento intensivo, cuja interpretação 'correta' requer um conhecimento especializado (15).
A presença de imagens simuladas na mídiaé um tema especial. Desde os anos 70, reportagens, livros
e artigos sobre corrida espacial ou o Universo, fizeram uso delas, sem maiores preocupações entre distinguir imagens
geradas de forma diferenciada (16). Imagens 'reais', imagens interpretadas e imagens simuladas constituem uma massa aparentemente homogênea (17).
Essa espetacularização, na falta de um reflexão mais atenta sobre ela, proposta como difusão
científica, caracteriza-se pelo uso de comparações 'geocêntricas': a maior montanha, oceanos sem fundo, a maior
cratera.... Banalização e irresponsabilidade parecem definir esse espetáculo da ciência (ou ciência
espetacular). As informações margeiam o fantástico, o terreno do tudo-provável. Esse procedimentos não
contaminariam, no sentido contrário, a própria ciência?
As imagens astronômicas, enquanto representações complexas e veiculadas pelos meios de comunicação,
submetem-se ao espetáculo. Como interpretá-las é uma questão em aberto. Quais as conseqüências
e as formas de recepção por parte do grande público? (18)
Embora a análise da fotografia (aqui interpretada como imagem fixa produzida por aparelhos) através
de categorias como paisagem ou outra qualquer seja uma forma precária de pensamento, é possível traçar algumas
considerações valiosas.
Um das grandes vertentes contemporâneas da fotografia é a documentação de natureza,
a foto de natureza. Com certeza, essa classificação poderia agregar categorias periféricas como o fotojornalismo
esportivo, no segmento dos esportes radicais como surfe, alpinismo, ou indo mais além a foto de aventura (viagens), representada
por uma grande produção editorial nos anos 80 e 90, no contexto brasileiro e internacional.
Antecipando um ponto que será tratado adiante, é possível entender essa produção
como fruto de um sentimento de globalidade, de apreensão do planeta Terra, em que manifestações como o movimento
ecológico são provavelmente apenas sua face mais conhecida. Essa colocação procura justificar uma
aproximação entre a presença constante de imagens astronômicas na mídia com outros gêneros
de produção de imagem como a fotografia subaquática. Macro e micro, extremos opostos, paisagens 'silenciosas' numa
mesma ambição científica e imaginária de inserção no mundo (19).
A paisagem em última instância. Imagens que indicam uma ampliação física do Universo conhecido. Ambas (estrelas e oceanos) parecem mediadas
em sua expressão pelo maravilhamento (20).
A terra vista da Lua (as idéias e seus lugares)
As questões apontadas exigem no entanto um contraponto. A produção e consumo dessa imagens
ocorrem de forma complexa e em contextos diversos.
Mas o que busca a exploração espacial? Conhecimento científico ou exploração
econômica?
A melhor resposta pode ser encontrada via internet no site mantido pela NASA, através da página dedicada
a MFPE - Mission from Planet Earth, principal projeto da instituição:
"What is the Mission From Planet Earth?
Mission From Planet Earth (MFPE) is a comprehensive long-term program of robotic and, ultimately, human exploration
and development of the solar system. MFPE will encompass a wide range of activities, including scientific exploration of the planets,
astronomical observations from the Moon, commercial development of space, and eventually human outposts beyond Earth. (...) In
fact, the ultimate goal of MFPE is to bring space fully within the sphere of human activity."
"NASA's Mission From Planet Earth Study Office addresses three questions about space exploration and development:
" Why should this nation and other nations support these activities?
"What are sensible goals for MFPE?
"How can we achieve them?
"Why? is a question of rationale. It is a question that must be answered by society as a whole, not just by NASA
or other space agencies. The MFPE Study Office strives to promote broad discussion and debate on the value of space exploration
and development.
"What? is a question of objectives. We cannot adopt all the plausible worthy objectives of MFPE. Which will
be the most effective? Which will provide the greatest return to Americans and all humanity? Which can be practically achieved?
The MFPE Study Office is carefully examining selected objectives to understand how we might structure a program around them.
"How? is a question of means. It encompasses things as diverse as spacecraft and space outpost design, mission
architecture, and the development of advanced technologies to broaden the range of future possibilities. The MFPE Study Office
is focusing on technologies, examining technology development by both NASA and industry to understand which can have the greatest
impact on space exploration and development.
"Although individual nations or space agencies can undertake elements of MFPE, the scope of the challenges can
ultimately only be met through international cooperation. The many international space projects to date have laid the foundation
for this cooperation. Most notably, the international space station joins the world's most capable spacefaring nations in a joint
program of unprecedented scope.
"MFPE extends to space development as well as exploration. (grifo nosso) NASA
can shape MFPE technology and infrastructure to support future space entrepreneurs. Space-based energy production, manufacturing,
and leisure travel are among those activities that eventually may provide commercial returns. A better understanding of Government's
role in enabling these kinds of activities is a key part of MFPE.
"Budgets for the next several years make beginning human missions to the Moon and Mars impractical. However, extending
human presence beyond Earth orbit remains a primary goal of the civil space program. Pursuit of this goal will enhance
economic competitiveness, advance scientific knowledge, promote international cooperation, and feed human needs for challenge,
adventure, and inspiration. NASA will continue to pursue this goal in service to the Nation and all humankind. (grifo nosso)"
A longa citação justifica-se por si. O serviço Internet da NASA fornece dados precisos
sobre acessos às páginas com cobertura para cada dez dias, informando acessos por páginas, assuntos, local
de origem do acesso e provedores utilizados (23).
Planeta Terra: a terra é azul
O importante em frases como a dos astronautas Yuri Gagarin (a Terra é azul) e Neil Armstrong (um grande
passo para a humanidade) é a obviedade, a ambigüidade.
As questões sobre as imagens astronômicas inserem-se numa matriz complexa entre conquista/exploração
espacial e imaginário de massa.
A Terra é azul remete diretamente à visão da totalidade, visão exteriorizada. Caetano
Veloso argumenta que sua composição Terra foi feita após o contato com fotos do planeta, durante
o período de prisão que precede o exílio em Londres nos anos 70. As referências na música
popular como Alô Alô Marciano, interpretada por Elis Regina, remetem à necessidade de auto-representação,
que curiosamente são endereçadas a um ser externo. A missão Voyager incluiu em suas naves um disco metálico
com representações de seres vivos do planeta Terra. Essas manifestações são aqui listadas pelo
fato de amplificarem a discussão inicial.
Não se trata mais da importância da fotografia astronômica como fonte de conhecimento, mas
como mecanismo associado à exploração espacial. Inserida num contexto global, sujeita a indústria de comunicação
de massa, seria necessário refletir em extensão e em conjunto sobre o tema da difusão científica.
Não apenas como mera divulgação, mas como mecanismo de avaliação e participação
sobre o processo científico.
A ciência enquanto espetáculo não deveria estar sujeita a uma ética relativa a
sua divulgação?
O processo de colonização espacial, interpretando com outras palavras o texto fornecido pela NASA,
deixando de lados os seus bons propósitos, esquece flagrantemente a existência do Outro. A situação é
apresentada apenas como um ocupação do Lebensraum!
Complementarmente, falando na imagem do Outro, esse processo de difusão é permeado pelo imaginário
de massa e pelo sentimento religioso, em que desejos e ambições ancestrais convivem com formas novas de expressão. Falamos
aqui da ficção científica, essa espécie de educação sentimental para a exploração
espacial. Embora prestigiada em certos setores como forma de expressão e reflexão, trata-se de um elemento chave para a discussão
aqui proposta, que desloca seu foco da imagem astronômica e sua importância socio-cultural para a análise
do papel da ciência, seu alcance e limites.
Os Lunáticos
Especulações são portas para o bem e para o mal. No universo da ciência, em especial
no âmbito das ciências humanas, onde se incluiria a história da fotografia (ou melhor, uma história
da visualidade) - especificamente no contexto brasileiro, cuja produção é pequena e desenvolve-se em ritmo
vagaroso, especulações requerem métodos precisos e abrangentes para avaliação de situações
híbridas. Híbridas, porque o foco de produção de imagens é externo, mas com consumo e impacto imediato
no contexto local.
Assim, mais uma vez ressaltamos que este ensaio deve ser visto como um relatório preliminar. Algumas especulações
cujos desdobramentos só poderão ser avaliados em cinco séculos digamos, mas cujas resultados éticos,
de difusão de informação e exclusão de desenvolvimento nos são contemporâneos.
"O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação,
da aviação. Postes. Gasômetros. Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações.
Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte."
Manifesto da Poesia Pau Brasil (1924), de Oswald de Andrade (5)
As imagens astronômicas são produzidas no âmbito da ciência como documentação
e veículo de investigação. Os diversos segmentos de pesquisa científica fizeram uso da fotografia desde
o século XIX sob essas duas vertentes, num contexto de época que tomava a fotografia como prova de verdade.
As imagens não são mais 'reais'. Imagens por radar, imagens simuladas por computador são
oferecidas em profusão pelos mídias impressos e pela televisão. O 'homem das ruas' convive com elas, embora
seu conhecimento e contato com alta tecnologia seja nebuloso.
Antes de mais nada, a discussão proposta trata as imagens astronômicas no contexto das viagens. Esse
deslocamento é certamente fruto da principal fonte de imagens estar ligada às explorações espaciais. Ao
mesmo tempo, estamos no âmbito da fotografia de paisagem. São as grandes representações do Universo
e do planeta Terra.
Seria relevante estudar esse tema a partir do panorama brasileiro? Esse ponto é de mais fácil entendimento no quadro contemporâneo,
sujeito a meios de comunicação de alcance internacional, de atuação permanente e de grande difusão
como a televisão. No entanto, o estudo seria amplamente justificável mesmo numa perspectiva histórica, como
os anos 60, apenas pelo fato dessas imagens estarem associadas à questão da exploração espacial cujo
discurso ideológico sempre a apresentou como conquista humana: We come in peace for all mankind.
Quando teve início a exploração espacial? Com Mélies e o cinema ou através de Von
Braun?
O que importa de imediato é o papel central dos órgãos governamentais de pesquisa aeroespacial
como pólos de difusão de imagens. Com orçamentos gigantescos, sujeitos a contínuos cortes, esses órgãos
usam intensamente a difusão de seus projetos como forma de ação. Assim, numa ótica primária,
essa atuação contaminaria e subverteria a produção imagética. Para os países "periféricos",
a interpretação socio-cultural desse conjunto visual aqui proposta poderia representar um processo de alienação,
numa aproximação simplória. No então, considerando o contexto internacional da mídia, o alcance
das imagens em si pode ser considerado quase de forma autônoma (21).
Ao mesmo tempo, como aponta Ulisses Capozolli (22), jornalista especializado em difusão científica,
convivemos com a consolidação da era espacial, cuja matriz foi dada pela expansão militar.
(...)
(...)
"It´s no simple, any more".
Frase do Presidente Whitmore, personagem central do filme Independence Day (1996).
Página criada por Ricardo Mendes
01.05.1997 - criação
01.05.1997 - atualização
NOTAS:
Quanto à simulação, no âmbito do folclore de massa, é possível recordar comentários correntes
no período que precedeu a missão da Apolo 11, quando dizia-se que a NASA possuía um modelo para simular a descida
caso fracassasse a missão. Certamente, o imaginário popular misturava o intenso trabalho de propaganda da agência
americana com uma interpretação conspiratória, motivada talvez pelo espírito da Guerra Fria. Outro comentário
semelhante argumentava que a transmissão era uma farsa realizada em estúdio. Essas lembranças de um adolescente
paulistano, o autor, permitem posicionar a discussão da fotografia astronômica no âmbito da indústria
cultural.
Volta!
Um exemplo complementar sobre a ambigüidade da ciência na sociedade pode ser
visto em entrevista do cantor Danilo Caymmi, na coluna Hipertexto, dedicada à informática e internet, em que declara
como seus sites favoritos a página da NASA com imagens do planeta Júpiter pela sonda Galileu (http://www.ccf.arc.nasa.gov/galileo_probe/)
e uma página dedicada às profecias de Nostradamus. (BRITO, Manoel Francisco. Hipertexto. VEJA, 29 (1467/43):
27, 23.10.96 (nota))
Volta!
Na estatística sobre origem do acesso, medido em hits, os gerados por endereços nos Estados Unidos (gov/com) contabilizam 9.563 para um total
de 34.186. Os acessos de origem desconhecida somam 8.437. A América do Sul aparece entre os dez principais pontos de acesso com meros
491 hits.
Ainda no âmbito das estatísticas, à título de curiosidade, fotografia astronômica é um dos 50 temas mais pesquisados
na Biblioteca Nacional, segundo informação fornecida pelo diretor da Divisão de Iconografia - Joaquim Marçal
Ferreira, em 09.96.
Volta!
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01.05.1997 - criação
01.05.1997 - atualização