Painel com 3,42 x 10,26 metros de comprimento, reunindo 32.832 fotos 3 x 4 cm, sobre 114 chapas.
No ano de 1989 dei início à coleta de fotos 3 x 4 para desenvolver meu trabalho fotográfico/visual. No começo busquei essas imagens nos laboratórios lambe-lambe, no centro de São Paulo, onde é produzida a grande maioria das fotos 3 x 4, fotos de documentação. O acesso a essas imagens foi impossível, mas minha passagem por esses laboratórios não passou em vão: a observação dos espaços encontrados, da disposição dos objetos e do modo de exposição das imagens despertou-me para a utilização de alguns dos procedimentos observados em meu próprio trabalho. No caos aparente desses ambientes foi possível resgatar uma lógica particular de articulação das imagens, alimentada muitas vezes pelo acaso. Comecei a criar outros procedimentos para coleta de fotografias, de 1990 a 1993, três trabalhos foram desenvolvidos, objeto-coletor de fotografias, baleiro e homem-sanduíche, onde o meio de coleta se transformou em objeto fotográfico, mas que por diferentes razões não atingiram os resultados esperados, que era a grande coleta de fotos para que num segundo momento podesse desenvolver um trabalho fotográfico questionando a apropriação de imagens. Paralelamente a procura de imagens 3 x 4 continuou e no final de 1993 entrei em contato com as cabines fotográficas instantâneas que monopolizam a grande produção de fotos de identidade. Questionando seu funcionamento tomei conhecimento do grande descarte de material produzido, na grande maioria por serem cabines de fácil utilização não são operadas por fotógrafos, onde o erro se torna mais comum. Passando a ter acesso a esse material descartado como lixo, um novo mundo de apropriação de imagens se abriu, algo tão forte que em um primeiro momento o puro fascínio pelas imagens também veio acompanhado por uma imobilidade característica do enfrentar um novo desafio. Mas apostando na lentidão do olhar e no convívio diário com o objeto coletado para que o trabalho se desenvolvesse. Apenas com uma certeza, a de não escolher imagens exemplares mas trabalhar com grandes quantidades de material estabelecendo uma nova forma de utilização das fotografias de identidade. Essa coleta passou a realizar-se sem muito critério, umas vezes facilmente outras não, o que provocou no início uma incerteza quanto à quantidade e tempo necessário de coleta, e consequentemente ao trabalho como um todo. Criei uma forma modular de 54 x 75 cm em folha de flandres com capacidade para 288 fotos 3 x 4 justapostas. As imagens começaram a ser cortadas uma a uma e agrupadas em pequenas quantidades à medida que iam sendo percebidas, dentro de um novo sistema de significação através de associações formais - matizes, relações de luz, composição - e simbólicas - postura, expressão, vestuário, etc. Este procedimento possibilitou a idéia de que a imagem isolada sem valor adquire valor através da acumulação, até as imagens mais banais perdem sua mediocridade quando reunidas em quantidade, ditando sua própria resolução, apresentando novas indagações e revelando detalhes surpreendentemente comuns e familiares a todos nós. No micro não possuía imagens suficientes para preencher cada superfície, assim montava superfícies com quatro características comuns, num total de 45 pranchas. Depois a coleta de fotos passou a se dar mais facilmente o que possibilitou um planejamento com mais liberdade criando 69 pranchas com uma única característica. Totalizando 114 pranchas de 54 x 75 cm, com 288 fotos 3 x4 cada, criando uma imagem única, embora modulada, construída por 32.832 fotos 3 x 4 cm. |
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